VACINA-TE CONTRA O HPV


O que é o HPV (Virus do Papiloma Humano)
O Vírus do Papiloma Humano (HPV), é um vírus que infeta seletivamente a pele (como por exemplo as mãos e os pés) e as membranas mucosas (como por exemplo as mãos e os pés) (1). As infeções por HPV são causadas pelo contato direto com zonas infetadas, podendo essas zonas apresentar ou não lesões clinicamente evidentes. Ou seja, indivíduos livres de infeção podem ser reservatórios e transmissores deste virus (1,2).
O contato sexual, ou seja, contato epitelial direto, pele e mucosas das regiões vaginal, vulvar, peniana ou anal, é a principal via de transmissão do HPV sendo, desde logo, possível a infeção num único contato sexual com um parceiro infetado. A infeção genital por HPV também poderá ocorrer através de outras práticas sexuais nomeadamente através da masturbação, sexo oral, anal e utilização de objetos de uso íntimo como por exemplo objetos/dispositivos de utilização sexual. Evidência científica sugere que o risco de infecção por HPV é significativo em indivíduos do sexo feminino, sexualmente ativos, entre os 13 e os 50 anos (3).
A transmissão do HPV só é possível através do contato epiletal (contato direto de pele ou mucosa com a pele ou mucosa infetada).
Não é possível através da de transfusão sanguínea (4,5).
O HPV é responsável por 99,7% dos casos de Cancro do Cólo do Útero em todo o mundo dos quais mais de 70% são atribuídos aos HPV 16 e 18. Segundo um estudo retrospetivo Mundial acerca da distribuição dos genótipos de HPV em doentes com Cancro do Colo do Útero, verificou-se que em 2364 mulheres europeias, com este cancro, 2058 apresentavam positividade para o HPV. Foram já identificados mais de 180 tipos de HPV, dos quais cerca de 45 infetam a região anogenital masculina e feminina e destes, 12 são classificados como carciogéneos. Os 8 tipos de HPV mais comuns observados nas mulheres europeias com o Cancro do Colo do Útero foram: HPV-16, HPV-18, HPV-31, HPV-33, HPV-35, HPV-45, HPV-52 e HPV-58 (3,6).
Fatores de Risco de Infeção por HPV
Os fatores de risco de infeção por HPV podem ser de:
Origem Biológica
- Inflamação do colo uterino (lesão lesão tecidual desencadeando-se ou não uma cascata inflamatória que diminui a imunidade celular e promove a angiogénese. Poderá tornar os tecidos mais suscetíveis a microfissuras aumentando a probabilidade de entrada do vírus) (5);
- Imaturidade do colo uterino (as adolescentes e mulheres jovens-adultas - sobretudo entre os 20 e os 24 anos apresentam maior vulnerabilidade para a infeção pelo HPV devido às diferenças que se observam nos tecidos do colo do útero (7);
- Co-infeção com outros vírus de transmissão sexual (sobretudo Herpes Simplex Tipo 2 e Chlamydia trachomatis) (7,8);
- Imunodeficiância (5);
Origem Comportamental
- Início precoce da atividade sexual;
- Várias práticas sexuais (que não envolvam necessariamente a penetração);
- Múltiplos parceiros sexuais;
- Parceiros com múltiplos parceiros (7,8).
Prevença do HPV
A redução da incidência da infeção por HPV e, consequentemente, do Cancro do Colo do Útero, só será possível através da adoçao de medidas efetivas de prevenção primária e secundária.
Prevenção Primária (medidas que possam ser adotadas antes do processo patogénico/infecioso se iniciar):
- Informação/formação e sensibilização das populações para os fatores de risco e medidas preventivas;
- Vacinação contra o HPV, integrada no Plano Nacional de Vacinação (PNV) (que deverá ser administrada de forma universal e gratuita, também à população não abrangida pelo PNV) (9, 10);
- A abstinência sexual, a circunsição e a utilização do preservativo é apontado como um fator de proteção/barreira reduzindo o risco de infeção (contudo, a utilização de preservativo pode não conferir proteção total, dado que não protege os genitais externos e a transmissão do HPV dá-se pelo contato de pele com pele (11).
A prevenção da infeção HPV e consequentemente controlo do Cancro do Colo do Útero, deve pasar por estratégias integradas, nomeadamente programas de educação para a saúde sexual e reprodutiva e a vacinação (12).
Prevenção Secundária
Esta tem como objetivo o diagnóstico precoce da doença em indivíduos que não apresentam sintomas da doença (13) - aparentemente saudáveis - através de programas de rastreio. O objetivo dos programas de rastreio é reduzir a mortalidade e a incidência da doença, através da identificação de mulheres com lesões cervicais pré-cancerosas e cancro invasivo no estado inicial e tratar estas mulheres de forma adequada. De facto, alterações iniciais no colo do útero, podem ser detetadas anos antes do desenvolvimento do cancro invasivo através de testes de rastreio. De todos os tumores malignos, o Cancro do Colo do Útero é aquele que pode ser controlado através do rastreio (14,15). Este deve ser iniciado entre os 25 e os 30 anos e terminar aos 65 anos, com uma periodicidade de 3 a 5 anos (10).
Referências Bibliográficas
(1) Reichman RC. Human Papillomavirus Infections. Harrison's Principles of Internal Medicine McGraw-Hill. 2005: 1056-1058.
(2) Anderson LA. Prophylactic human papillomavirus vaccines: past, present and future. Pathology. 2012; 44(1): 1-6.
(3) Pista A, Oliveira CF, Cunha MJ, et al. Risk Factors for Human Papillomavirus infection among women in Portugal: The CLEOPATRE Portugal Study – Publication of the Interational Journal of Ginecology and Obstetrics. 2012.
(4) Bragagnolo A, Eli D, Haas P. Papiloma Virus Humano. Rev. bras. anal. Clin. 2010; 42: 91- 96.
(5) Bosch FX, Qiau Y, Castellsagué X. The epidemiology of human papillomavirus infecyion and its association with cervical cancer. International Journal of Gynecology and Obstetrics. 2006; 94: Chapter 2.
(6) Sanjosé S, Quint WGV, Alemany L, Geraets DT, Klaustermeier JL, Lloveras B, et al. Human papillomavirus genotype attribution in invasive cervical cancer: a retrospective cross-sectional worldwide study. Lancet Oncology. 2010 October; 11: 1048-56.
(7) Medeiros R, Teixeira AL, Silvia J, et al. Oncogenic HPV Types Infection in Adolescents and University Women from North Portugal: From Self-Sampling to Cancer Prevention. Journal of Oncology. 2011: 1-8.
(8) Clements AE, Raquer CA, Cooper AM, et al. Prevalence and patient characteristics associated with CIN 3 in adolescentes. American Jornal of Obstetrics and Ginecology. 2010; 2014: 1.e1-1.e7.
(9) Denny L, Sankaranarayanan R. Secondary prevention of cervical cancer - International Journal of Gynecology and Obstetrics. 2006; 94: Chapter 6 .
(10) Sociedade Portuguesa de Ginecologia - Secção Portuguesa de Colposcopia. Consenso sobre Infecção HPV e Lesões Intraepiteliais do Colo, Vagina e Vulva; 2011.
(11) Brady MT, Byington C, Davies HD, et al. HPV Vaccine Recommendations. Committee on Infectious Diseases. American Academy of Pediatrics. Pediatrics. 2012; 602- 605.
(12) Ventura MT, Freita MG. Ministério da Saúde - DGS - Comissão Técnica de Vacinação - Vacinação contra infecções por Vírus do Papiloma Humano (HPV). 2008. [consultado em: Abril de 2016] disponível em: http://www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i009812.pdf.
(13) Granja M. Rastreio Oncológico: conceitos, orientações e práticas. Acta Médica Portuguesa. 2001; 14: 441-447.
(14) Boyle P, Levin B. editors. World Cancer Report 2008. Lyon: International Agency for Research on Cancer. 2008.
(15) Arbyn M, Anttila A, Jordan J, Ronco G, Schenck U, Segnan N, et al. editors. European guidelines for quality assurance in cervical cancer screening. Luxembourg: European Communities; 2008.
(16) Castellsagué X, Munoz N, Pitisuttisith P, et al.End-of-study safety, mmunogenicity, and efficacy of quadrivalente HPV (types 6,11,16,18) recombinante vaccine in adult women 24-45 years of age. British Jornal of Cancer. 2011; 105: 28-37.
(17) Giulliano FR, Palefsky J, Goldstone S, et al. Efficacy of Quadrivalent HPV Vaccine against HPV Infection and Disease in Males. The New England Journal of Medicine. 2011; 5: Vol. 364.
(18) Pereira J, Barbosa C, Mateus C. Análise custo-efectividade e custo-utilidade da vacina contra o Virus do Papiloma Humano 16 e 18 (CervarixTM) no contexto de rastreio do cancro de colo do útero em Portugal. Lisboa: ENSP/UNL; Outubro 2007.
(19) Wright Jr. TC, Huh WK, Monk BJ, Smith JS, Ault K, Herzog TJ. Age considerations when vaccinating against HPV. Gynecologic Oncology. 2008; 109: S40–S47.
(20) Direção Geral da Saúde. Programa Nacional de Vacinação (PNV): Introdução da vacina contra infecções por Vírus do Papiloma Humano – Circular Normativa No22/DIR.2008. [consultado em: Abril de 2016] disponível em: http://www.saudereprodutiva.dgs.pt/

